segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Conto: O Mistério da Borboleta Negra.

Mais um conto cheio de mortes e sangue para vocês, leitores do marcoversus.blogspot!
Apesar do nome, o conto não tem nada de fofo ou feminino.
Enfim, espero que gostem!

O Mistério da Borboleta Negra.

Geraldo já havia falecido há certo tempo. Seus parentes choraram muito, e já choravam quando ele estava na UTI do hospital. No dia de sua morte, a última visita que Geraldo havia recebido era a de uma inofensiva borboleta negra, que por uma falta de atenção dos médicos e dos familiares, foi enterrada junto ao corpo de Geraldo. A borboleta havia morrido, deixando apenas um ovo negro junto ao defunto.

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14 dias depois.
Rafael sempre gostou de insetos e desde pequeno já demonstrava tal interesse ao ficar o dia inteiro no quintal de casa, observando os besouros, as moscas e as larvas. Aos 26, ele já havia completado a faculdade de Entomologia e, a partir daí, vem dedicando toda a sua vida ao estudo dos insetos.
– Você devia dar um tempo à todas essas coisas, Rafa. – falou Mônica, amiga de Rafael.
– O quê? E deixar essa belezinha aqui sem nome? – Disse Rafa, fazendo o grilo albino de
marionete.
Eca! Eu já te disse que odeio insetos? – perguntou Mônica.
– Já. – respondeu Rafael. – Um milhão de vezes.
– Eu só gosto das borboletas. Longe de mim, mas gosto.
– E pensar que as lagartas se transformam em algo tão bonito, não? – disse Rafael.
– Ai, credo! Odeio lagartas! – gritou Mônica, com cara de nojo. – Não gosto mais de borboletas.
O entomologista riu, e começou a pensar na metamorfose. Uma coisa tão estranha e feia, se transformando numa coisa tão bela. Será que a alma de uma lagarta era a mesma de uma borboleta transformada? Para Rafael, os insetos tinham alma, tinham a essência da vida como todos nós.
Tudo corria bem naquela tarde de Domingo, até a chegada de uma velha conhecida.
– Ora ora, você não vai morrer tão cedo! – disse Rafael, olhando para a borboleta negra.
A borboleta pousou em cima da mesa de Rafael, fechou asas, mexeu suas antenas e voou para fora do apartamento.
– Minha avó dizia que isso era um mal sinal. – exclamou Mônica.
– O que, você está falando da borboleta? O que há de errado com a coitada? – perguntou Rafa.
– Não sei, mas eu lembro que minha vó dizia que borboletas negras traziam má sorte.
– Bobagem. O único inseto mal que pode fazer mal a alguém é essa barata perto dos seus pés. – disse Rafael, apontando para perto de Mônica.
Aaahhh!!! – gritou Mônica, saindo do apartamento sem perceber que se tratava de uma brincadeira.
Rafael riu, e então olhou pela janela e se deu conta que a tarde havia agora se tornado noite. Guardou seu grilo albino em uma pequena caixa dentro de uma gaveta, trancou todo o apartamento e então foi dormir. Ou ao menos tentou.
Ao deitar-se na cama, Rafael não conseguia pegar no sono. Para se distrair, acendeu a luz e pegou um de seus livros sobre insetos para ler. Quando estava quase pegando no sono, ouviu passos e desviou o olhar do livro para a porta do quarto: ele tinha certeza que havia avistado um vulto logo ali.
Com o medo já tomando conta de seu corpo, o entomologista se levantou da cama e seguiu em direção à porta do quarto, que se fechou violentamente, deixando ele trancafiado sozinho no quarto.
As palavras de Mônica emergiram em sua cabeça:
“...eu lembro que minha vó dizia que borboletas negras traziam má sorte.”
Rafael se lembrou de que tinha um livro contendo as mais diversas espécies de borboletas, o qual havia também várias informações interessantes sobre as mesmas. Mesmo que o medo tivesse tomado conta do seu corpo, ele conseguia se concentrar em apenas procurar tal livro, tentando não pensar no que ele estava passando.
Achei! – gritou Rafa, pegando o livro.
Ele estava sim muito perturbado, mas não se deixava intimidar pela luz piscante do quarto ou pelos urros vindos da janela. Ele folheava página por página, procurando algo sobre a borboleta negra que era a possível causa do seu pesadelo. Viu todas as páginas, uma a uma, mas nada foi encontrado. Não havia vestígios daquela espécie no livro.
– Alucinações, é isto. Eu só posso estar imaginando coisas – resmungava Rafa – E, se isso é tudo uma farsa, não há nada que vá me fazer mal lá fora.
Antes que Rafael se levantasse para tentar sair do quarto, ele arriscou dar uma última olhada no livro:
Introdução
As borboletas são seres incríveis, não só pela sua metamorfose, mas pelas diversas
lendas e mitos criados acerca desses pequenos seres. Alguns acreditam que elas se-
jam mensageiras, trazendo avisos bons ou ruins (dependendo da cor de suas asas).
Outros acreditam que certas borboletas sejam a reencarnação de espíritos, simboli
zando assim a imortalidade da alma.

Rafael aguardou alguns segundos, pensante. Balançou a cabeça e então guardou o livro.
– Não é possível que eu estou quase acreditando nessas bobagens. – disse Rafael, esfregando o rosto. – Eu vou dar o fora desse quarto e tomar alguma coisa para poder dormir.
Ao chegar perto da porta fechada, Rafael foi surpreendido por um grande impacto, que abriu a porta e jogou-o com força na cama. Um grande ser sombrio e de aparência deformada começou a entrar vagarosamente no quarto, indo em direção à Rafael, que permanecia em pânico e imóvel.
Se isso for real, é o meu fim. Se isso for um pesadelo, eu irei simplesmente acordar.
Quando a criatura estava quase tocando no entomologista, seu rosto se virou para a janela e ela gritou ao olhar para o clarão, se desintegrando em carvão. O sol da manhã salvara a vida de Rafael, que finalmente conseguira dormir.
O telefone começou a tocar na cozinha, acordando assim Rafael. Ele não podia mais pensar que todo aquele terror era só imaginação: a porta do quarto estava toda arrebentada, e os restos de carvão permaneciam no seu quarto. O telefone então finalmente foi atendido.
– Alô.
Olá Rafael! É o Alberto, se lembra de mim?
Oh, claro que eu me lembro! Eramos amigos na faculdade de Entomologia, não?
Sim, isso mesmo cara! E então, como vai o trabalho?
O silêncio predominou a linha telefônica por alguns segundos. Rafael se recordou que seu amigo Alberto entendia bastante sobre borboletas.
Rafael? Você está ai, camarada?
Me desculpe, eu estava aqui pensando... você entende bastante de borboletas, não é mesmo?
Modéstia a parte, eu sei quase tudo. Por que, você queria me perguntar algo?
– O que você sabe sobre borboletas negras?
Bem... elas são borboletas normais.
Não há nada diferente a respeito delas?
Existem apenas lendas que dizem que as borboletas negras são mensageiras da morte ou reencarnações de bruxas. Haha, mas porque você está me perguntando isso?
Fora algo que me ocorreu ontem. Uma borboleta negra entrou no meu apartamento, pousou na minha mesa e levantou voo logo depois.
E o que aconteceu com você, Rafael?
Você pode não acreditar, mas... eu acho que fui atacado por um espírito.
A conversa parou novamente, mas a respiração podia ser ouvida de ambos os lados.
Se o que você disse é verdade, e se a borboleta realmente está relacionada a tudo isso... você pode estar correndo perigo.
Alberto, você está falando sério? Acredita mesmo em mim?
Sim, eu tenho estudado muito sobre as borboletas e suas diversas lendas. Me passe o seu endereço que eu irei tentar lhe ajudar.
Rafael então passou o seu endereço ao Alberto e olhou para a janela, cheio de receio. Uma grande nuvem negra começava a esconde o sol, que começava a lutar para permanecer aceso entre os diversos prédios da cidade de São Paulo. A nuvem negra não trazia apenas uma tempestade, mas também arrastava diversos temores para perto de Rafael. Ele se pôs a sentar no sofá, mas continuava inquieto e inseguro. Um mau pressentimento tomava conta de Rafael.
A nuvem negra tomou conta do céu e a fiação do prédio de Rafael entrou em colapso, deixando todos sem energia. Passos podiam ser ouvidos no meio da escuridão. Passos carregados com o temor da morte, e seguiam lentamente em direção ao entomologista. Na cabeça de Rafael, cada passo dado era uma aproximação da morte.
Morte, morte, morte, algo se aproximava dele, mas ele sabia que não podia fazer nada.
O sofá em que o rapaz estava foi empurrado bruscamente em direção a janela, levando ele à uma queda livre do prédio de 36 andares. Antes de chegar no chão ele já estava morto por dentro, seu coração já não batia mais. A borboleta negra tentou acompanhar o corpo com o bater de suas asas, mas sem sucesso. A colisão de Rafael foi sim brutal, fazendo seu crânio parecer gelatina de framboesa e seus ossos parecerem uma massa de modelar. A poça de sangue formava-se em seu redor, enquanto todos observavam apavorados no meio da rua. Que tragédia.
Eis que, no meio da multidão de curiosos surge alguém que queria ajudar, que
tentou ajudar.
– Minha nossa... Rafael! – gritou Alberto, abrindo espaço no meio da multidão.
Alberto conseguiu chegar ao lado do corpo, mas não havia mais nada a fazer ali, a não ser observar a borboleta negra colocar um único ovo atrás da cabeça de Rafael, e morrendo logo em seguida.
– Ele estava falando a verdade. – Alberto lamentou – Você realmente havia amaldiçoado meu velho amigo.
A antiga lenda que Alberto ouvira quando quis saber mais sobre as borboletas realmente era verdade. A borboleta negra carrega em si uma essência demoníaca, e tem o poder de escolher a morte de um indivíduo. Uma mensageira da morte que se alimenta da alma humana, e se aproveita do que sobra do corpo para renascer em uma outra borboleta negra, dali duas semanas. Ela nunca passa pela metamorfose, ela apenas morre e renasce como uma outra borboleta. Um ciclo sem fim, que precisa de sacrifício humano para ser completado.
O barulho das sirenes emergia pelas ruas. Adalberto então se agachou perto do corpo de Rafael e pegou o ovo que a borboleta havia deixado:
– Você pode ter levado essa alma, mas aqui você não retorna mais. – disse ele, esmagando o ovo com seus dedos – A sua maldição termina aqui.
Adalberto pensou que havia acabado com a maldição, mas ele estava completamente enganado. Perto dali, milhares de borboletas negras faziam seu voo, escolhendo suas vítimas. Outras milhares de borboletas estavam espalhadas em cadáveres pelo mundo inteiro, adormecendo dentro de seus ovos e apenas à espera do despertar. Mesmo que ela perca uma de suas asas, a morte nunca vai deixar de existir.

2 comentários:

  1. Nossa adorei a história!
    já estou seguindo, continue assim que você vai longe!!
    Mas visite meu blog também
    www.gstoryoner.blogspot.com

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