quinta-feira, 15 de março de 2012

O Bosque


  O rapaz caminhou de forma desnorteada pela rua, parecendo não lembrar direito o caminho da sua destinação. Sendo assim, parou próximo à uma árvore e procurou se orientar. Parecia finalmente ter achado o que procurava. Entrando em uma espécie de bosque, se deparou com uma garota de cabelos tom de sépia, trajando uma bela jaqueta vermelho-escuro e jeans rasgados, sentada em um banco próximo ao lago. Com um cigarro aceso em uma das mãos, colocou-o na boca e olhou em direção ao rapaz que seguia em sua direção.
– Eu sabia que ia encontrar você aqui. – falou o rapaz com um sorriso no rosto.
– Bem... foi o lugar o qual você me deixou, não é mesmo, Valter? – respondeu a moça, tentando não tirar o olhar de seu cigarro.
– É... sobre isso... – disse ele, se sentando ao lado da moça. – Será que você poderia deixar eu dar uma tragada?
– Pensei que você não gostasse de fumar, mas tudo bem. – disse a moça, cedendo o cigarro ao Valter.
– Mas eu não gosto, nunca gostei. É que, agora eu preciso....
Uma lágrima então escorreu pelo rosto de Valter. Ele foi tentar enxugar, mas desistiu logo.
– Deve ser bem difícil para você voltar aqui. – falou a moça.
– E é... – respondeu ele.
– Você veio aqui por que? – a moça questionou. – Sentiu saudades? Veio atrás de perdão?
– Os dois. Ainda sinto sua falta toda noite. Quando o frio aperta então, me lembro dos abraços que você costumava me dar; aquilo esquentava o meu coração, mas hoje se tornaram apenas essas lembranças que só esfriam a minha alma. Eu sinto que vai tudo congelar até me quebrar em mil pedaços, sabe?
Valter desabou de vez, chegou a soluçar. A moça ao seu lado não parecia se importar muito, apenas aproveitou que ele não estava mais dando atenção ao cigarro e pegou-o de volta.
– Eu não entendo. – falou a moça após uma tragada. – Foi você quem terminou comigo.
– Foi um erro... foi um erro... – resmungou Valter enquanto enxugava o rosto. – Eu não aguento mais viver com a perda, muito menos com a culpa. Eu preciso de perdão.... você me perdoa?
A moça da jaqueta vermelha deu sua última tragada, soltou toda a fumaça no ar e jogou fora o que restara do cigarro. Olhou nos olhos de Valter e começou a falar:
– Aquele era pra ter sido um dos melhores momentos da minha vida, mas você conseguiu acabar com tudo só por causa da sua agressividade estúpida.
– Mas você estava olhando pro merda do seu amigo! – interviu Valter, mesmo com a garota parecendo nem prestar atenção.
– Eu te chamei pra dar uma volta, porque eu sabia que você estava nervoso e ia me causar problemas. Você parecia ter voltado ao normal, e no meio do caminho sugeriu para que fossemos para algum bosque para ficarmos mais à vontade, então viemos pra cá. Pensei que fossemos passar o resto dia dia juntos, sem brigas, mas você voltou a ficar agressivo novamente. Você já estava conseguindo me deixar nervosa também, então eu peguei e acendi um cigarro. Você gritava comigo dizendo que isso ia acabar me matando. Sem pensar, eu disse que aquilo era o que eu mais queria naquele momento. Foi aí que você arrancou o cigarro das minhas mãos e enfiou-o no meu olho. Minha retina queimava e, quando eu comecei a gritar de dor, você começou a me estrangular para fazer cessar o barulho. Em poucos segundos eu fiquei roxa, e logo eu não sentia mais nada. Desesperado, você me jogou dentro do lago e foi embora. Me abandonou, terminou comigo. – Eu só quero o perdão, Maria..... só o perdão.... eu quero o perdão....
Enquanto Valter repetia a mesma frase, Maria foi se evaporando como a fumaça de seu cigarro. As árvores do bosque foram se distorcendo até tomarem a forma de paredes. Tudo foi ficando branco, até que nada mais restava, apenas um quarto branco com um homem dentro, batendo incansavelmente sua cabeça na parede enquanto pedia “perdão”. Fora do quarto, dois homens de jaleco branco (com as escritas 'Hospital Psiquiátrico Santa Salvação'), discutiam sobre o paciente.
– Nós não deveríamos entrar lá e dar algo pra ele? Algum calmante ou algo assim? – perguntou o enfermeiro.
– Não, não. Deixe esse aí se foder sozinho. – respondeu o médico.
– Mas nós não devemos ajudar e tratar das pessoas daqui? Nosso dever não é salvar os pacientes? – perguntou o enfermeiro de novo, indignado.
– Esqueça, esse não tem mais salvação. – respondeu o médico, sem dar muita atenção. – Venha, vamos checar os outros pacientes.
Antes de acompanhar o doutor, o enfermeiro deu uma última olhada na sala do paciente, quando o mesmo veio em direção a porta. Encostou sua testa ensaguentada no pequeno vidro na porta pelo qual o enfermeiro observava. Utilizando-se da mancha de sangue, o paciente apenas escreveu no vidro com uma caligrafia não muito boa: “PERDOE”.












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